Definição de CONCEITO
extraído de Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano
(gr. tayyoç; lat. Conceptus; in. Concept; fr. Concept; ai. Begriff; it. Conceito). Em
geral, todo processo que torne possível a descrição, a classificação e a
previsão dos objetos cognoscíveis. Assim entendido, esse termo tem significado
generalíssimo e pode incluir qualquer espécie de sinal ou procedimento
semântico, seja qual for o objeto a que se refere, abstrato ou concreto,
próximo ou distante, universal ou individual, etc. Pode-se ter um C. de mesa
tanto quanto do número 3, de homem tanto quanto de Deus, de gênero e espécie
(os chamados universais [v.]) tanto quanto de uma realidade individual,
como p. ex. de um período histórico ou de uma instituição histórica (o "Renascimento"
ou o "Feudalismo"). Embora o C. seja normalmente indicado por um nome
não é o nome, já que diferentes nomes podem exprimir o mesmo C. ou diferentes
conceitos podem ser indicados, por equívoco, pelo mesmo nome. O C, além disso,
não é um elemento simples ou indivisível, mas pode ser constituído por um
conjunto de técnicas simbólicas extremamente complexas, como é o caso das
teorias científicas que também podem ser chamadas de C. (o C. da relatividade,
o C. de evolução, etc). O C. tampouco se refere necessariamente a coisas ou fatos
reais, já que pode haver C. de coisas inexistentes ou passadas, cuja existência
não é verificável nem tem um sentido específico. Enfim, o alegado caráter de universalidade
subjetiva ou validade intersubjetiva do C. na realidade é simplesmente a sua
comunicabilidade
de signo linguístico: a função primeira e fundamental do C. é a
mesma da linguagem, isto é, a comunicação. A noção de C. dá origem a dois
problemas fundamentais: um sobre a natureza do
C. e outro sobre a função do C.
Esses
dois problemas podem coincidir, mas não coincidem necessariamente.
A) O
problema da natureza do C. recebeu duas soluções fundamentais: 1° C. é a essência das
coisas, mais precisamente a sua essência necessária, pela
qual não podem ser de modo diferente daquilo que são; 2° C. é um signo.
1ª A
concepção do C. como essência pertence ao período clássico da filosofia grega,
em que o C. é assumido como o que se subtrai à diversidade e à mudança de
pontos de vista ou de opiniões, porque se refere às características que, sendo
constitutivas do próprio objeto, não são alteradas pela mudança de perspectiva.
Nos primórdios da filosofia grega, o C. apareceu como o termo conclusivo de uma
indagação, prescindindo, na medida do possível, da mutabilidade das aparências
e visando àquilo que o objeto é "realmente", isto é, à sua
"substância" ou "essência". Para os gregos, essa busca pareceu
ser a tarefa própria do homem enquanto animal racional, isto é, tarefa própria
da razão; com efeito, C. e razão são designados pelos gregos com o mesmo termo,
logos.
Aristóteles atribui a Sócrates o mérito de haver descoberto
"o raciocínio indutivo e a definição do universal, duas coisas que se
referem ao princípio da ciência" {Met., XIII,
4, 1.078 b). Esse mesmo mérito é atribuído a Sócrates por Xenofonte {Mem., IV,
6, 1): Sócrates mostrou como o raciocínio indutivo leva à definição do C; e o
C. exprime a essência ou a natureza de uma coisa, o que a coisa verdadeiramente
é. Platão faz do universal socrático,a própria realidade. O belo, o bem, o
justo são substâncias, isto é, realidades no sentido forte do termo,
realidades absolutas. Platão emprega os mesmos termos (substância, espécie,
forma ou simplesmente entes) para indicar as realidades últimas como "em
si mesmas" e como são "em nós" (isto é, como C). A mente humana contém
"a verdade dos entes" {Men., 86
a-b); ela encontra já como suas as substâncias que
constituem a estrutura fundamental da realidade {Fed., 76
d-e). Aristóteles, nesse ponto, só faz reproduzir e articular numa doutrina bem
mais complexa o ponto de vista de Platão. O C. {logos) é o
que circunscreve ou define a substância ou a essência necessária de uma coisa {Dean., II,
1, 412 b 16); por isso, ele é independente do gerar-se e corromper-se das
coisas e não pode ser produzido ou destruído por tais processos {Met, VII,
15,1.039 b 23). Em outros termos, para Aristóteles, o C. é idêntico à
substância, que é a estrutura necessária do ser, aquilo pelo qual todo ser não
pode ser diferente do que é (v. SUBSTÂNCIA). Essas determinações são típicas da
concepção do C. como essência. Com relação a elas, o caráter da universalidade
aparece como secundário e derivado: por universal, diz Aristóteles, entendo
"o que é inerente ao sujeito em qualquer caso e por si, na medida em que
um sujeito é o que é" {An.post., I, 4, 73 b 25 ss.).